Acerto na Previsão do Tempo? Um case real para distribuição de energia.
Qual a porcentagem de acerto da sua previsão? Esta é uma pergunta frequente em reuniões com grandes empresas do setor elétrico. Por isso, resolvemos escrever este artigo para mostrar sim a importância deste índice de acerto, mas também ressaltar que a relação construída entre os seres humanos é muito mais importante. Ou seja, o trabalho conjunto entre os meteorologistas, engenheiros e técnicos de operação tornam a leitura de um modelo meteorológico algo mais simples, facilitando e fazendo sentido a sua tomada de decisão diária.
A união dessa relação humana com plataformas operacionais tecnológicas irá fazer a diferença a médio e longo prazo. Algumas variáveis meteorológicas possuem menor acurácia nas saídas numéricas dos modelos atmosféricos, visto que são resultados de combinações de diversos mecanismos que ocorrem nos balanços da atmosfera. Como é o caso das variáveis chuva e vento, que possuem grande variação em sua distribuição espacial.
Dessa forma, acertar uma previsão de chuva e vento pontualmente se torna um desafio muito maior. No geral, os modelos atmosféricos apresentam uma tendência de aumento/diminuição dessas variáveis e é nesse momento que o meteorologista entra como uma peça fundamental na análise e nos processos de consultoria e planejamento operacional. Um caso muito interessante vem ocorrendo com uma grande empresa do setor de distribuição de energia no estado do Rio de Janeiro. Segue abaixo uma breve revisão de um caso que ocorreu no dia 01/03/2020.
TEMPESTADE SEVERA 01/03/2020 – Norte do RJ
Para iniciar a análise, voltemos ao dia 29/02/2020, quando a equipe de operação da distribuidora de energia observou a imagem da previsão do acumulado de chuva para o dia seguinte (01/03/2020), apresentado na Figura 1. O modelo utilizado na plataforma operacional da Climatempo (SMAC) indicava acumulado diário de chuva em torno de 60 a 80 mm em grande parte da região norte do RJ. Isso deixou toda a equipe da distribuidora em alerta. Foi realizado o contato com a equipe de meteorologistas da Climatempo com um dia de antecedência e o planejamento de mobilização das equipes de manutenção, entre outras decisões estratégicas, foi iniciado.
Na manhã de domingo (01/03/2020), ambas as equipes (Climatempo x Cliente) acordaram com grande expectativa em relação a previsão do tempo que já vinha sendo informada desde o dia anterior. No início do dia, o boletim meteorológico atualizado manteve a previsão de tempo severo para o período da tarde, confirmando assim, a previsão informada anteriormente, conforme Figura 2.
No período da tarde, a Climatempo, através do monitoramento nowcasting, realizou o envio de alertas inteligentes para as áreas mais críticas. Os pontos monitorados foram mudando de cor na plataforma de acesso, de acordo com o risco meteorológico que se aproximava. Concomitantemente, os alertas enviados pelo e-mail e aplicativo já estavam sendo direcionados às equipes responsáveis, como pode ser observado na Figura 3.
No decorrer da tarde, a tempestade chegou ao Norte do Estado do Rio e os danos foram grandes. Várias árvores caídas, postes e linhas de alta tensão interrompidas (Figura 4 e 5). Mas o mais relevante foi a recuperação e manutenção do sistema elétrico com rapidez e eficácia, garantindo o menor tempo possível de clientes-hora interrompidos, com um menor custo operacional de pessoal e maior compromisso com toda a população do norte do Estado.
Após a passagem dessa tempestade, através dos históricos disponíveis na plataforma SMAC, foi possível observar os detalhes de onde houve a maior ocorrência de raios, sua intensidade, polaridade e distância das subestações e redes de tensão mais próximas, de acordo com as Figuras 6 e 7. Tais dados ajudam a compor relatórios sobre o evento, facilitando a interpretação do ocorrido para a equipe, contribuindo também para a criação de novas medidas a serem tomadas diante de novas intempéries.
Por Vitor Hassan, meteorologista da Climatempo.